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ENTREVISTA COM A ARQUITETA ANA PAULA LAPOLLI

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para prestigiar e conhecer uma arquiteta com engajamento na arquitetura social, as alunas Julia Duemes, Luiza Seibt, Pietra Bonatti e Suyane Bechtold entraram em contato com a arquiteta Ana Paula Lapolli e a entrevistaram para conhecer um pouco mais sobre sua vida e como funciona sua participação em projetos sociais.

ARQ. ANA – Arquiteta convidada Ana Paula Lapolli

PB – Pietra Bonatti

SB – Suyane Bechtold

 

PB –Boa noite Ana, você gostaria de nos falar um pouquinho sobre você?

ARQ. ANA – Boa noite, tudo bem? Em primeiro lugar gostaria de agradecer a oportunidade de estar aqui, é sempre bom a gente falar para quem escolheu essa profissão, uma profissão maravilhosa. Na realidade hoje a minha principal atuação é na docência, sou formada há 18 anos, pós-graduada em gestão de projetos na construção civil, mas hoje estou lecionando e me realizando bastante nesta profissão.

SB – O que levou você escolher o curso de arquitetura?

ARQ. ANA – Essa pergunta não deveria estar aqui (risos) ela é meio hilária porque normalmente as pessoas tem o dom, sonham desde criança em ser aquele profissional... e eu não! Eu fui lá peguei uma lista dos cursos e escolhi quais tinham matemática, e fui riscando todos os outros, só que chegou num ponto em que tinha arquitetura e engenharia civil, porem engenharia civil só tinha de tarde e arquitetura de manhã, então eu escolhi arquitetura.

SB- E ai, se apaixonou?

ARQ. ANA - Com certeza! Eu acho que na verdade a arquitetura me escolheu porque mais tarde eu fui entender que era para eu ser arquiteta mesmo e não seria outra coisa se não isso.

PB – E como você chegou nesse ponto, que a arquitetura te escolheu? O que te levou a isso?

ARQ. ANA – Então, no início da profissão somos obrigados a fazer de tudo o que surge, a gente tem que abraçar, porque a gente está conquistando, está trabalhando, você aceita tudo quanto é tipo de projeto, você não pensa muito nos tipos de projeto que estão vindo... só que com o passar do tempo a gente vai percebendo algumas necessidades e vai entendendo que a profissão do arquiteto é importantíssima na transformação social e que não podemos simplesmente ficar na mesmice de só fazer um projeto atrás do outro sem se preocupar com o efeito e o reflexo que isso vai ter na vida das pessoas, e ai eu comecei a perceber que realmente eu estava no lugar certo e que eu precisava fazer algumas coisas diferentes do que aquilo que eu imaginava que era arquitetura.

PB – Por exemplo?

ARQ. ANA – Tipo arquitetura social, é uma coisa que contagia a gente e quando vemos já estamos envolvidos. É algo que não é planejado.

SB – E como foi o seu encontro com a arquitetura social?

ARQ. ANA – Sempre tive escritório autônomo, e em determinado momento fui chamada para participar de um projeto social de uma franquia nacional que reforma creches e espaços de atendimento a crianças, sem nenhum tipo de recurso ou doação, o que era um desafio, porque tínhamos uma creche de 400m² e transformamos ela em uma creche de 1200 m², apenas com parcerias, aí eu descobri que realmente aquilo ali era o que eu gostaria de fazer. Por conta desse trabalho a prefeitura me chamou para ser funcionaria publica e eu desenvolvi projetos dentro da secretaria de assistência social [...]. Muitas vezes pensamos em arquitetura como algo glamoroso e que causa impacto e as vezes são as pequenas ações que causam uma transformação imensa.

PB – E em qual ano foi o seu primeiro projeto?

ARQ. ANA – Foi em 2005, [...] fiz alguns projetos sociais de forma autônoma, com parcerias independentes porque como as pessoas conhecem o meu histórico e sabem que eu gosto de fazer isso, pois não dá para fazer arquitetura social sem gostar, ela é um proposito diferente da arquitetura de luxo, [...] todos (os tipos de arquitetura) são fundamentais, mas existe um nicho de mercado que não consegue chegar ao arquiteto, é nesse momento em que a gente entra.

SB – E você acredita que hoje as universidades estão trabalhando a arquitetura social como realidade?

ARQ. ANA –[...] a definição de arquitetura social pra mim na verdade é: arquitetura porquê? Porque arquitetura se ela não se preocupar com as pessoas? Se ela não se preocupar com a interferência que o meio causa nas pessoas e com a interferência que as pessoas têm no meio? [..] pra mim arquitetura social é promover a dignidade a qualidade da habitação, do espaço público ou de qualquer espaço que seja, que a gente como arquiteto interfira sem um alto custo.

PB – E hoje como esses projetos sociais chegam até você? Porque você falou que no começo era muito difícil participar e atuar e como você consegue te realizar hoje?

ARQ. ANA – Então, alguns projetos aconteceram no meio do meio do caminho. Quando sai da prefeitura inicialmente eu fui chamada por um grupo que já faz benfeitorias [...] para fazer a construção da casa de uma senhora e a gente fez essa primeira casa em um grupo enorme de pessoas, profissionais de todos os segmentos [...]. Depois disso as pessoas acabam sabendo que a gente se envolve com isso e começam a chamar e ai esse mesmo grupo me chamou para fazer a adaptação de adequação de uma casa de um rapaz que ficou tetraplégico [...] adequamos a casa dele, ainda não é como deveria ser, mas com muito mais dignidade, pra ter uma ideia ele não tinha um banheiro para tomar banho com a cadeira de banho dele, hoje ele tem um banheiro onde pode tomar banho todos os dias, ai é o que eu digo, a pequena coisa. A arquitetura precisa ter consciência do poder que temos na mão, a partir de poucos elementos a gente faz uma infinidade.

SB – E como você acha que sua função na arquitetura influencia no teu papel em casa, como mãe, esposa?

ARQ. ANA – Esse é um outro projeto que eu falei que aconteceu durante a minha vida, eu vinha trabalhando como arquiteta já estava um pouco insatisfeita de trabalhar na iniciativa privada queria ter outras formas de trabalhar então resolvi montar um negócio próprio que nada tinha a ver com arquitetura, mas que tem haver com sustentabilidade com os R’s todos e montei um brechó, porque eu queria ter mais tempo pra ficar com os meus filhos, eu tenho um filho de 19 anos, um de 16 e eu acho que fiquei tão tranquila que eu engravidei e tive a Maria Vitoria que hoje está com 2 anos. Então hoje, o meu projeto é a Maria, tanto que me afastei um pouco da arquitetura de atuação, e a docência me permite ficar mais tempo com ela, por isso eu estou em uma atuação muito maior na faculdade do que como arquiteta. Como executora de obras que eu tenho um portfolio bem extenso de obras que eu executei, projetei, mas que hoje está num passado um pouquinho distante, por essa opção de projeto. [...]

Confundimos a mulher mãe com a mulher arquiteta, mas porquê? Eu acho que a arquitetura foi criada por uma mulher, a mulher protege, compreende, escuta, media conflitos, resolve problemas, tem uma visão do produto acabado, consegue fazer mil coisas ao mesmo tempo, eu estou falando de mãe ou de arquiteta? O arquiteto faz isso, arquiteto cuida, pensa no final já, pensa mil coisas ao mesmo tempo, então chega um momento em que não sabemos mais quem é mãe e quem é arquiteta, passamos a mão no cliente, consolamos ele pois talvez ele não vai conseguir executar aquele projeto dos sonhos, mediamos conflitos entre marido e esposa, pois ele quer uma mega churrasqueira e ela uma mega cozinha e a gente cria um espaço integrado onde vai ter uma mega churrasqueira e uma mega cozinha num único espaço e eles vão viver felizes para sempre. Por fim, acho que ser mãe ajuda muito na arquitetura e ser arquiteta ajuda muito a ser mãe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PB – E a gente sabe que tem muita gente que tem muita vontade de estar iniciando trabalhos e voluntariado no ramo da arquitetura social, e hoje já com anos de atuação tanto na área da arquitetura e na arquitetura social como que a gente que está iniciando a arquitetura agora, pode se inserir e pode ajudar nesse nicho?

ARQ. ANA – Então, a universidade pode se envolver também nisso, eu acho que hoje o envolvimento na arquitetura social ainda é muito pequeno. O que esta acontecendo é uma mudança de padrões onde a grande maioria dos arquitetos tem algum tipo de preocupação eles já estão se preocupando com as pessoas, a gente tem vários autores que estão falando de cidades para pessoas, vários autores que estão se preocupando com o homem que é o elemento principal da arquitetura, ninguém faz arquitetura para ninguém, [...] as pessoas são o elemento principal da arquitetura. Vocês como alunos, que estão iniciando, acho que precisam se engajar em projetos pequenos, prestar atenção na comunidade [...] sempre que puderem participar de projetos sociais é muito interessante! E vocês vão ver que faz mais bem para vocês do que para quem é beneficiado! E esta é a grande sacada para quem trabalha com projeto social!

PB – Eu acho que isso resumiu tudo, e é isso mesmo, queremos agradecer a sua presença Ana, muito obrigada por estar aqui e estar compartilhando a sua experiência com a gente, que para nós é muito importante e significativo, e também por ter disponibilizado o seu tempo e ter vindo aqui com a gente.

ARQ. ANA – Eu que agradeço, é tão bom compartilharmos eu acho que isso faz uma diferença e isso que me levou pra docência! Essa facilidade e vontade de multiplicar o conhecimento, o conhecimento ele não é nada se ele ficar guardado dentro de mim, [...] isso tudo que a gente está conversando agora vai refletir em bons espaços, cidades melhores e então em pessoas melhores, porque arquitetura é feita de pessoas. O meio construído é apenas um elemento dentro desse todo, mas é a pessoa o elemento principal.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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